quinta-feira, 26 de abril de 2018

Corações distantes



Um dia, Meher Baba perguntou aos seus discípulos:
– Por que as pessoas gritam quando estão aborrecidas?
Os homens pensaram por alguns momentos...
– Porque perdemos a calma, disse um deles. Por isso, gritamos.
– Mas, por que gritar quando a outra pessoa está ao teu lado? - questionou Baba. Não é possível falar-lhe em voz baixa? Por que gritas a uma pessoa quando estas aborrecido?
Os homens deram algumas respostas, mas nenhuma delas satisfazia ao Baba. Finalmente, ele explicou:
– Quando duas pessoas estão aborrecidas, seus corações se afastam muito. Para cobrir esta distância precisam gritar para poder escutar-se. Quanto mais aborrecidas estejam, mais forte terão que gritar para escutar-se um ao outro através desta grande distância.
Em seguida, Baba perguntou:
– O que sucede quando duas pessoas se enamoram? Elas não gritam, mas sim, se falam suavemente, por quê? Porque seus corações estão muito perto. A distância entre elas é pequena.
Baba continuou:
– Quando se enamoram acontece mais alguma coisa? Não falam, somente sussurram e ficam mais perto ainda de seu amor. Finalmente, não necessitam sequer sussurrar, somente se olham e isto é tudo. Assim é quando duas pessoas que se amam estão próximas.
E concluiu, dizendo:
– Quando discutirem, não permitam que seus corações se afastem. Não digam palavras que os distanciem mais. Chegará um dia em que a distância será tamanha que não mais encontrarão o caminho de volta.



segunda-feira, 23 de abril de 2018

Consertando o mundo


Um cientista vivia preocupado com os problemas do mundo e estava resolvido a encontrar meios de minimizá-los. Passava dias em seu laboratório em busca de respostas para suas dúvidas.

Certo dia, seu filho de sete anos invadiu seu santuário decidido a ajudá-lo a trabalhar. O cientista, nervoso pela interrupção, tentou que o filho fosse brincar em outro lugar.

Vendo que seria impossível demovê-lo, o pai procurou algo que pudesse ser oferecido ao filho com o objetivo de distrair sua atenção. De repente, deparou-se com um mapa do mundo. Com o auxílio de uma tesoura, recortou o mapa em vários pedaços e, junto com um rolo de fita adesiva, entregou ao filho dizendo:

– Você gosta de quebra-cabeças? Então vou lhe dar o mundo para consertar. Aqui está o mundo todo quebrado. Veja se consegue consertá-lo bem direitinho! Faça tudo sozinho.

Calculou que a criança levaria dias para recompor o mapa. Algumas horas depois, ouviu a voz do filho que o chamava calmamente:

– Pai, pai, já fiz tudo. Consegui terminar tudinho!

A princípio o pai não deu crédito às palavras do filho. Seria impossível na sua idade ter conseguido recompor um mapa que jamais havia visto.

Relutante, o cientista levantou os olhos de suas anotações, certo de que veria um trabalho digno de uma criança.

Para sua surpresa, o mapa estava completo. Todos os pedaços haviam sido colocados nos devidos lugares. Como seria possível? Como o menino havia sido capaz?

– Você não sabia como era o mundo, meu filho, como conseguiu?

– Pai, eu não sabia como era o mundo, mas quando você tirou o papel da revista para recortar, eu vi que do outro lado havia a figura de um homem. Quando você me deu o mundo para consertar, eu tentei, mas não consegui. Foi aí que me lembrei do homem, virei os recortes e comecei a consertar o homem que eu sabia como era. Quando consegui consertar o homem, virei a folha e vi que havia consertado o mundo.



sexta-feira, 20 de abril de 2018

Coisas que levei anos para aprender


1. Jamais, sob quaisquer circunstâncias, tome um remédio para dormir e um laxante na mesma noite.
2. Se você tivesse que identificar, em uma palavra, a razão pela qual a raça humana ainda não atingiu (e nunca atingirá) todo o seu potencial, essa palavra seria reuniões.
3. Há uma linha muito tênue entre "hobby" e "doença mental".
4. As pessoas que querem compartilhar as visões religiosas delas com você quase nunca querem que você compartilhe as suas com elas.
5. Não confunda nunca sua carreira com sua vida.
6. Ninguém liga se você não sabe dançar. Levante e dance.
7. A força mais destrutiva do universo é a fofoca.
8. Uma pessoa que é boa com você, mas grosseira com o garçom, não pode ser uma boa pessoa.
9. Seus amigos de verdade amam você de qualquer jeito.
10. Nunca tenha medo de tentar algo novo. Lembre-se de que um amador solitário construiu a Arca. Um grande grupo de profissionais construiu o Titanic.

Autor: Luis Fernando Veríssimo



quinta-feira, 19 de abril de 2018

Calma e serenidade


Perto de Tóquio vivia um grande samurai, já idoso, que se dedicava a ensinar o fundamento zen aos jovens.
Apesar de sua idade, corria a lenda de que ainda era capaz de derrotar qualquer adversário.
Certa tarde, um guerreiro conhecido por sua total falta de escrúpulos apareceu por ali. Queria derrotar o samurai e aumentar sua fama.
O velho aceitou o desafio e o jovem começou a insultá-lo. Chutou algumas pedras em sua direção, cuspiu em seu rosto, gritou insultos, ofendeu seus ancestrais.
Durante horas fez tudo para provocá-lo, mas o velho permaneceu impassível.
No final da tarde, sentindo-se já exausto e humilhado, o impetuoso guerreiro retirou-se.
Desapontados, os alunos perguntaram ao mestre como ele pudera suportar tanta indignidade.
– Se alguém chega até você com um presente, e você não o aceita, a quem pertence o presente?
– A quem tentou entregá-lo - respondeu um dos discípulos.
– O mesmo vale para a inveja, a raiva e os insultos. Quando não são aceitos, continuam pertencendo a quem o carregava consigo.
A sua paz interior depende exclusivamente de você. As pessoas não podem lhe tirar a calma. Só se você permitir...




quarta-feira, 18 de abril de 2018

A vaca no precipício



Um sábio passeava por uma floresta com seu fiel discípulo, quando avistou ao longe um sítio de aparência pobre e resolveu fazer uma breve visita.
Durante o percurso ele falou ao aprendiz sobre a importância das visitas e as oportunidades de aprendizado que temos, também com as pessoas que mal conhecemos.
Chegando ao sítio constatou a pobreza do lugar. A casa era de madeira. Faltava calçamento e os moradores, um casal e três filhos, trajavam roupas rasgadas e sujas.
Ele se aproximou do pai daquela família e lhe perguntou:
– Neste lugar não há sinais de pontos de comércio e de trabalho. Então, como o senhor e a sua família sobrevivem aqui?
O senhor calmamente lhe respondeu:
– Meu amigo, nós temos uma vaquinha que nos dá vários litros de leite todos os dias. Uma parte desse produto nós vendemos ou trocamos na cidade vizinha por outros gêneros de alimentos e com a outra parte nós produzimos queijo, coalhada e outros produtos para nosso consumo. Assim, vamos sobrevivendo.
O sábio agradeceu a informação, contemplou o lugar por alguns momentos, despediu-se e partiu. No meio do caminho, voltou ao seu fiel discípulo e ordenou:
– Aprendiz, pegue a vaquinha, leve-a ao precipício ali na frente e a empurre, jogando-a lá embaixo.
O jovem arregalou os olhos espantando e questionou o mestre sobre o fato de a vaquinha ser o único meio de sobrevivência daquela família. Mas, como percebeu o silêncio absoluto do seu mestre, foi cumprir a ordem. Assim, empurrou a vaquinha morro abaixo e a viu morrer.
Aquela cena ficou marcada na memória daquele jovem durante alguns anos e um belo dia ele resolveu largar tudo o que havia aprendido e voltar naquele mesmo lugar e contar tudo àquela família, pedir perdão e ajudá-los.
Assim fez e quando se aproximava do local avistou um sítio muito bonito, com árvores floridas, todo murado, com carro na garagem e algumas crianças brincando no jardim. Ficou triste e desesperado imaginando que aquela pobre família tivera que vender o sítio para sobreviver.
Chegando ao local, foi recebido por um caseiro muito simpático e perguntou sobre a família que ali morava havia uns quatro anos, ao que o caseiro respondeu:
– Continuam morando aqui.
Espantado, ao encontrar os familiares, viu que se tratava das mesmas pessoas que visitara com o mestre. Elogiou o local e perguntou ao dono:
– Como o senhor melhorou este sítio e está tão bem de vida?
E o senhor, entusiasmado, respondeu-lhe:
– Nós tínhamos uma vaquinha que caiu no precipício e morreu. Daquele dia em diante tivemos que fazer outras coisas e desenvolver habilidades que nem sabíamos que tínhamos. Assim, alcançamos o sucesso que seus olhos vislumbram agora.